Site especializado em investimentos repercute atrasos da Braiscompany e diz que fundador tem passado ligado a esquema de pirâmide

Por Fonte83 / Infomoney - 11/01/2023

A Empresa Braiscompany, especializada na gestão de criptoativos, que são representações digitais de valores, está envolvida nos últimos dias em polêmica que envolve atraso nos pagamentos de rendimentos dos seus investidores. Segundo alguns clientes da companhia, que tem sede em Campina Grande, o atraso vem do último pagamento de 2022, que deveria ter acontecido até o dia 30 de dezembro último.

A ocorrência dos atrasos foi confirmada pelo fundador e CEO da Braiscompany, o empresário Antônio Neto Ais, que alegou em vídeo, na internet, que a empresa vem sofrendo alguns problemas técnicos e, que “vem tentando resolver o problema, dia após dia, com a criação de aplicativo e outras soluções tecnológicas”.

O problema dos atrasos da Braiscompany virou reportagem de destaque no Infomoney, considerado o maior site especializado em mercados, investimentos e negócios do Brasil. Na matéria, são publicados relatos de investidores e apontado passado do fundador da empresa com suposta ligação a esquema de pirâmide financeira com uso de Bitcoin.

Leia a matéria na íntegra:

Empresa brasileira de criptomoedas atrasa pagamentos e coloca culpa na Binance

Fundador, no entanto, tem passado ligado a esquema de pirâmide financeira com uso de Bitcoin

A Braiscompany, empresa brasileira que afirma trabalhar com locação de criptomoedas, está atrasando os pagamentos. Investidores confirmaram para a reportagem do InfoMoney que os valores que deveriam ser pagos no dia 30 de dezembro ainda não caíram em suas contas.

O negócio, que tem sede em Campina Grande (PB), capta criptomoedas de pessoas e paga uma remuneração mensal que, segundo os clientes, pode chegar a 9%. O modelo é semelhante ao da Rental Coins, que fazia parte de um esquema fraudulento com cripto criado pelo “Sheik das Criptomoedas”, preso no ano passado.

“Iríamos receber R$ 7 mil (no dia 30), já que o rendimento de dezembro foi de 7%. Não recebemos. Isso está deixando cada vez mais claro que há um problema de liquidez na empresa”, disse um cliente que investiu R$ 100 mil no ano passado e pediu para não ser identificado. Até agora, ele só conseguiu recuperar 20% do valor.

Foto: Reprodução / Infomoney

Outro investidor, que também pediu para não ter o nome revelado, relatou a mesma situação. “Não consegui receber (no mês passado). Fiz um contrato de R$ 20.000 e outro de R$ 8.400, o que daria R$ 2.000 em média (por mês)”.

A página da Braiscompany no site Reclame Aqui e grupos de conversas e redes sociais foram inundados com reclamações semelhantes nas últimas semanas. Por causa do excesso de críticas, o perfil do Instagram do negócio foi fechado para comentários.

Mudança de versão
A reportagem entrou em contato com a Braiscompany por e-mail pedindo mais detalhes sobre o motivo dos atrasos, mas não obteve resposta até o fechamento deste texto. No final do ano passado, a empresa divulgou para alguns clientes que a demora na liberação do dinheiro estava acontecendo por causa da criação de um novo aplicativo do negócio.

Em uma live realizada na noite da segunda-feira (9) no Instagram do advogado Artêmio Picanço, especializado em blockchain, o CEO da Braiscompany, Antonio Inacio da Silva Neto (conhecido mais como Antonio Neto Ais), mudou a versão e disse que a culpa dos atrasos é da Binance, corretora da qual a empresa diz que depende 100% para operar e fazer pagamentos.

“A Binance vem travando os saques e transferências sempre que ultrapassamos o limite de três, quatro ou cinco Bitcoin (BTC). Ela trava por alguns minutos, destrava, desbloqueia, trava novamente. Isso vem acontecendo desde novembro e se agravou em dezembro”.

Ele disse ainda que a exchange agora quer saber a origem do dinheiro e pediu prints de conversas como provas. “Isso vai contra tudo que defendemos de descentralização”, falou.

Por meio de nota, a Binance diz que não “realiza quaisquer ações em contas que não sejam devidamente embasadas nos termos e condições, contratos e políticas vigentes e aceitos por todos os usuários”. A empresa não citou o nome da Braiscompany no comunicado.

A corretora também falou que prima pela segurança de seus usuários, tem um programa de compliance robusto – que incorpora princípios e ferramentas de análise para prevenção a ilícitos financeiros – e atua em parceria com as autoridades para evitar que possíveis criminosos utilizem a plataforma.

“A Binance reforça que proteção do usuário e segurança são prioridade e que atua em total colaboração com as autoridades para coibir que pessoas mal intencionadas utilizem a plataforma. A exchange ressalta que tem uma equipe de investigação de renome mundial, com ex-agentes que trabalham em constante coordenação com autoridades locais e internacionais no combate a crimes cibernéticos e financeiros, inclusive no rastreamento preventivo de contas suspeitas e atividades fraudulentas”.

Na live, o dono da Braiscompany falou que a empresa faz a gestão de R$ 600 milhões em ativos digitais de 10 mil clientes e que, desse total, apenas 1% (100 pessoas, portanto) não recebeu. Ele disse ainda que, caso o investidor não esteja mais satisfeito com o negócio, pode sair. “Quem estiver incomodado, quebre o contrato”, falou. A multa pelo distrato, no entanto, é de 30% do valor.

“O contrato que assinamos estabelece um deságio de 30% quando a quebra for unilateral e antes do prazo de 12 meses. Dada a situação de insegurança que estamos atravessando, não tenho condições de continuar com a relação comercial estabelecida. Acredito que a confiança deve permear qualquer relação, principalmente a comercial”, disse um cliente que optou por sair do negócio.

Passado ligado a fraudes
Especialistas do mercado financeiro e cripto recomendam para os investidores pesquisarem tudo sobre a empresa e os proprietários antes de fazer qualquer investimento. No caso da Braiscompany, ela foi fundada por Antonio Inacio da Silva Neto e sua esposa, Fabricia Farias Campos (conhecida como Fabricia Ais), em maio de 2018, segundo a Receita Federal.

Antes de virarem empresários, no entanto, os dois eram líderes da D9 Club de Empreendedores, um conhecido esquema de pirâmide que usava o Bitcoin como fachada para lesar vítimas, e que deixou milhares de pessoas no prejuízo no Brasil.

No final 2020, os dois respondiam a pelo menos 20 processos judiciais relacionados ao caso. Algumas das ações citavam Danilo Vunjão Santana Gouveia (conhecido como Danilo Dubaiano), criador da D9 que fugiu para Dubai após o caso.

Em 2019, o programa Fantástico, da rede Globo, mostrou como Dubaiano vive uma vida de luxo nos Emirados Árabes Unidos.

Investigações
Em julho de 2020, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu um processo administrativo (PA) para averiguar possíveis irregularidades na Braiscompany. Como havia no negócio indícios de crime contra a economia popular, e o regulador não lida com esse tipo de infração, a autarquia repassou o caso para o Ministério Público da Paraíba.

O MP-Procon, órgão de defesa do consumidor do Ministério Público da Paraíba (MPPB), começou a investigar a empresa naquele ano. Quem assumiu o caso foi o promotor de Justiça Socrates da Costa Agra.

À reportagem, o MPPB disse que recebeu uma consulta em 2020 vinda de um anônimo que desejava investir na empresa, e que oficiou os órgãos do Procon Municipal e Estadual e apurou que não havia reclamação de consumidores lesados. Dessa forma, o processo foi arquivado “por não ser órgão de consulta que garante ou não idoneidade de empresa e por não haver lesão ao consumidor”.

“Por óbvio, o arquivamento não impede que sejam instaurados novos procedimentos com a competente investigação, caso surjam notícias ou informações de lesões aos consumidores”, completou.