O ex-deputado Jeová Campos concedeu ontem entrevista ao programa radiofônico Arapuan Verdade. No trecho em que respondeu sobre as disputas que envolvem a escolha do/a candidata/o do PT na eleição do próximo ano em João Pessoa, Campos minimizou a traumática saída de Luciano Cartaxo do PT, em 2015, no auge da crise política que desaguou no impeachment de Dilma Rousseff da presidência e, em seguida, na inelegibilidade e na prisão de Lula — lembremos para a eternidade: esses acontecimentos foram decisivos para a eleição de Jair Bolsonaro e à ascensão e consolidação da extrema-direita no país.
Jeová foi além. Para ele, que esse episódio está “superado” dentro do partido. Jeová sabe mais do que eu que não é bem assim, e a última declaração a respeito do presidente estadual do PT, Jackson Macedo, mostra que essas feridas continuam abertas. E sangrando. Há três semanas, Macedo comparou, em entrevista à rádio CBN de João Pessoa, as trajetórias de Cida Ramos e Luciano Cartaxo, lembrando que a história da deputada tem muito mais identidade com o legado e a luta do PT.
Luciano Cartaxo, claro, perdeu o fôlego e foi obrigado ao contra-ataque, sem fazer, porém, menção ao episódio lembrado por Jackson. O que ensejou a tréplica do presidente do PT, que fez questão de lembrar, agora em tom menos diplomático: “Cida sempre esteve no lado do campo progressista. Ela nunca saiu desse campo, dessa luta”, ao contrário de Cartaxo. E foi além: “Você conhece a história desse deputado, que é a história de uma ‘oligarquia Tabajara’ familiar”, lembrando das seguidas candidaturas de parentes, lançadas por Luciano Cartaxo nas últimas eleições: do irmão a governador, em 2018, da cunhada a prefeita de João Pessoa, em 2020, e, por fim, da esposa, candidata à vice-governadora na chapa de Veneziano Vital do Rego, em 2022.
Escute o que disse Jackson Macedo em sua pesada tréplica a Luciano Cartaxo.
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Não se trata, portanto, como quis fazer crer Jeová, de uma questão superada, muito menos esquecida, sobretudo pela militância do PT, que assistiu, incrédula e revoltada, ao único prefeito eleito pelo partido no Nordeste, em 2012, abandonar o barco no pior momento da história da legenda. O que estava em jogo entre os anos de 2015 e 2018, anos em que Luciano Cartaxo estava perfilado ao lado dos que derrubaram Dilma, prenderam Lula e, em seguida, elegeram Jair Bolsonaro, era a sobrevivência do PT e do seu legado histórico. Quem tiver um mínimo de memória lembrará do bombardeio inclemente contra o PT e suas lideranças. E o que ficou para a história é que Luciano Cartaxo não resistiu e acovardou-se.