Diante do acirramento político provocado pela decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que determinou a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), cancelou compromissos no Nordeste e antecipou seu retorno a Brasília para acompanhar de perto os desdobramentos da crise.
Motta tinha participação confirmada em um seminário sobre alfabetização que aconteceria nesta quarta-feira (6), em Fortaleza (CE), mas optou por não comparecer ao evento. A decisão foi tomada ainda na manhã de terça-feira (5), após o parlamentar participar de inaugurações de hospitais em Patos e João Pessoa, na Paraíba.
A movimentação se intensificou com a ocupação do plenário da Câmara por parlamentares da oposição e com o início de uma articulação de partidos de centro-direita, como PL, União Brasil e Progressistas, para paralisar os trabalhos legislativos em protesto contra o que consideram uma escalada do Judiciário contra o ex-presidente.
Segundo informações de bastidores, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, procurou o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que comanda o Progressistas, para pedir apoio à obstrução. Ambos aceitaram e orientaram suas bancadas a aderirem ao movimento.
A reação também passou por tentativas anteriores de articulação. Quando Bolsonaro foi obrigado a usar tornozeleira eletrônica, há cerca de duas semanas, Rueda propôs uma reunião virtual com os presidentes das siglas da centro-direita, incluindo o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), que também é presidente do partido de Motta. A reunião, no entanto, não ocorreu de forma coordenada, já que muitos estavam em recesso ou fora do país.
Mesmo sem se posicionar abertamente, Marcos Pereira, que é advogado e tem atuação junto às cortes superiores, adotou postura cautelosa em relação ao STF, mas viu parlamentares de sua legenda, mais alinhados ao bolsonarismo, aderirem às ações em apoio ao ex-presidente.
A estratégia da oposição prevê ocupar as mesas diretoras da Câmara e do Senado por tempo indeterminado. Um rodízio foi montado: grupos de parlamentares revezam-se em turnos de três horas de ocupação e seis horas de descanso. A ideia é manter a paralisação até que os presidentes das duas casas se reúnam com os líderes oposicionistas.