Vou-me embora pra Pasárgada, lá o rei tem juízo

Por Fonte83 - 26/02/2021

O sobrinho (o meu) lamenta em suas redes sociais “o decreto” que atrapalhou sua rotina diária na academia.

Nos templos fechados, líderes religiosos não aceitam a restrição que os impedem de seguir pastoreando as ovelhas para o abate viral.

Em sua live de quinta (sim, o trocadilho é proposital), o presidente alardeia pesquisa de uma universidade (não diz o nome) que tem estudo (não informa qual) que indica o malefício do uso da máscara.

Tudo isso aconteceu ontem, quando enterramos mais 1.582 brasileiros vítimas da Covid-19 – o dia mais letal da pandemia, que completou um ano no Brasil sem perspectiva de controle.

No final do dia, depois de bater boca com o pastor, prometer dar uma sova no sobrinho e desejar a aparição de kamikazes no cercadinho do Planalto, alcancei meu limite.

Chega.

Vou com Manoel Bandeira pra Pasárgada. Nem sou amiga do rei. Mas o poeta apostava que ele tinha juízo.

Estava certo, com certeza.

Qualquer um tem mais juízo que Bolsonaro, o gestor do pior país do mundo para se viver a pandemia.

E a fuga da realidade – que é o sentido figurado do desejo de Bandeira de desaparecer mundo afora – é a rota possível para tentar manter os rancores, humores e a sanidade nestes tempos dramáticos.

Se continuar de olhos abertos para essa triste realidade, posso até sobreviver ao vírus.
Mas perderei para sempre a capacidade de sentir esperança.