A sirene deve ter tocado alto no gabinete do prefeito Bruno Cunha Lima (União Brasil) quando ele soube da cassação do registro do prefeito eleito de Goiânia, Sandro Mabel (União Brasil), que foi beneficiado por um jantar promovido pelo governador Ronaldo Caiado, no Palácio das Esmeraldas, sede do governo de Goiás. O jantar reuniu vereadores eleitos e suplentes durante a campanha do segundo turno em Goiânia-GO. Caiado foi condenado a oito anos de inelegibilidade por abuso de poder econômico.
Se comparáramos com o que fez Bruno Cunha Lima para se reeleger prefeito de Campina Grande, a decisão sobre Ronaldo Caiado e Sandro Mabel, em Goiânia, é fichinha. Todo mundo viu que a máquina foi usada sem nenhum pudor em benefício da candidatura à reeleição de Bruno, em 2024, mas agora, depois da auditoria do TRE feita nas contas de campanha do prefeito campinense, não há mais como duvidar.
O descalabro foi de tal magnitude que o relatório da auditoria não deixou outra alternativa a não ser sugerir ao TRE a desaprovação das contas de Bruno Cunha Lima. Quer um exemplo? A campanha do prefeito deixou de pagar aos fornecedores mais de R$ 1 milhão reais. Se nesse caso Bruno deu calote, provavelmente a empresas campinenses, pagou e não usou serviços de redes sociais como o Facebook. O dinheiro a mais não foi devolvido ao Fundo Eleitoral, que é dinheiro público.
Além da reprovação das contas de campanha, a Comissão do TRE recomendou a aplicação duas multas, uma no valor de R$ 272.486,48 pelo uso indevido de recursos do Fundo Partidário, no valor de R$ 105.736,38, e a outra pelo uso indevido de recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha no valor de R$ 166.750,10.
O prefeito ainda responde por duas AIJEs (Ações de Investigação Judicial Eleitoral) por abuso de poder político e econômico. Uma, pela utilização indevida dos meios de comunicação, paga com dinheiro da prefeitura, para favorecê-lo na eleição. Outra, pela contratação excessiva de servidores sem concurso durante o período eleitoral — nesse caso, Bruno Cunha Lima só deixou passar a eleição para começar a demitir quem foi contratado. O batom na cueca ficou claro quando Bruno foi ao Tribunal de Contas se comprometendo a “ajustar a folha”, prometendo até assinar um Termo de Ajustamento de Gestão, que existe para corrigir impropriedades detectadas durante fiscalizações.
Tudo isso nos dá uma dimensão do tamanho do feito eleitoral de Jhony Bezerra no pleito de Campina. Johny, um simples médico que nunca tinha sido candidato a nada, entrou na disputa recebendo o desprezo dos adversários e da imprensa. Com uma campanha que ganhou o coração do povo desejoso por mudança, especialmente da juventude, Johny foi ao segundo turno, abocanhando quase 100 mil votos, mais de 42%. E fez isso numa disputa totalmente desequilibrada, enfrentado não só a união das mais tradicionais famílias de Campina Grande, como o poder de uma máquina que, agora começamos a saber, foi usada sem nenhuma medida em favor da reeleição de Bruno Cunha Lima.
Se o TRE não cassar o registro do prefeito, vai dar uma autorização legal a todos os prefeitos na próxima eleição: podem usar a máquina à vontade, nada vai acontecer.