Acordei hoje em um sonolento domingo. Após o abrir das pálpebras, balbuciei para meu travesseiro: “Ser ou não ser, eis a questão”, não havendo qualquer conotação shakespeariana na frase. Hamlet passou longe do que pronunciei. Na verdade, desejava dizer o seguinte: “Dormir ou não dormir”, essa era a questão na prática do fato. Minha escassez de forças, em decorrência de uma insônia avassaladora, buscava a clausura da cama.
Porém, é bem verdade, não havia escolha ou chances para mais um cochilo. O trabalho diário deveria ser executado. Equações geométricas do cotidiano precisavam ser resolvidas de forma eficaz. Pensamentos solidificados na escrita eram necessários, e assim iniciei minha labuta lendo e engolindo as notícias em diversas formas de mídia. As palpáveis e as não palpáveis.
E nos arredores periféricos das minhas retinas percebi, no folhear das narrativas noticiosas, algo no mínimo intrigante. Falo da postura matemática do deputado federal Ruy Carneiro (Podemos), no qual põe e expõe com vigor um pensamento dúbio em relação ao aumento das tarifas de ônibus em João Pessoa e Campina Grande.
Não existe, em sua balança retórica, um argumento para apontar que houve na capital paraibana, como na Rainha da Borborema, uma majoração de preços nas passagens do transporte público. Um aumento tarifário de vinte centavos nas duas cidades. Um aumento equânime. Ruy Carneiro centrou seu fogo de artilharia apenas na capital, esquecendo por completo Campina Grande.
E o mais interessante: na outrora Vila Nova da Rainha, em termos percentuais, a elevação de preços chegou 4,62%. Em resumo, a passagem de ônibus foi de R$ 4,10 para R$ 4,30.
Em João Pessoa o percentual aplicado foi menor, sendo fixado o reajuste em 4,2%, elevando o custo da tarifa de R$ 4,70 para R$ 4,90. Em suma, na casa do “por cento” o valor agregado na capital foi menor.
E sim, eu entendo perfeitamente que todo o aumento, seja no preço dos alimentos, aluguel, vestuários, dentre outros aperta o bolso do trabalhador. Porém, parece-me que Ruy Carneiro, que coloca seu nome como pré-candidato a prefeito de João Pessoa, apenas critica a atual gestão municipal, capitaneada pelo seu oponente, Cícero Lucena (PP).
“Esquece” o deputado federal em inserir a mesma crítica referente ao reajuste das tarifas em Campina Grande, cujo destino administrativo do município serrado reside nas ações do prefeito Brunho Cunha Lima (União Brasil) – seu aliado.
CURIOSIDADES
É bom não esquecer o que já foi inserido neste texto. O aumento da tarifa dos ônibus na capital e na Rainha da Borborema foram iguais (R$,20), embora o percentual para a elevação dos preços adotados pela gestão Cunha Lima foi maior.
Algo mais curioso? Sim! João Pessoa tem o dobro da área urbana de Campina Grande. O mesmo vale para sua população. A capital tem pouco mais de 833 milhões de habitantes. Já na terra fundada pelos tropeiros esse número é de 418 mil. Os dados foram coletados pelo censo de 2023.
Em tese, o aumento tarifário em João Pessoa poderia ser maior, fato que não ocorreu. As cidades tiveram o mesmo valor no acréscimo de preço.
RUY E AS EMENDAS PARA O HELP EM CG
Mesmo gritando a plenos pulmões que João Pessoa é seu esteio político, havendo nessa conclusão uma alameda de amor inconteste; algo curioso reside nas emendas alocadas por Ruy Carneiro a Campina Grande. Em caso emblemático que circula na contramão do discurso empregado pelo parlamentar, ele destinou R$ 11,7 milhões do orçamento 2023, pela bancada paraibana, ao Hospital Help, de Campina Grande.
Para quem deseja administrar João Pessoa, o deputado não pode ficar de costas para o mar, pois o Atlântico banha de forma graciosa as praias da capital e dá refrigério à população pessoense.
Ter alguém aqui, e ao mesmo tempo acolá, beneficiando outras plagas que não as “suas” é complicado. E aí vai uma dica de ouro: é perfeitamente legal Ruy Carneiro alocar verbas para Campina Grande e outras cidades paraibanas. É sua função, desde que contemple João Pessoa e Região Metropolitana, afinal sua estada no Congresso se deve aos votos amplamente majoritários que recebeu na capital e cidades circunvizinhas.