Pedro, deixe Ronaldo descansar em paz; por Fabiano Gomes

Por Fabiano Gomes - 04/02/2024

O poema que Pedro Cunha Lima declamou ontem em suas redes sociais, em resposta ao que teria dito o governador João Azevedo na gigantesca e surpreendente plenária do PSB, realizada em Campina na última sexta, é uma mistura de ato falho com uma carapuça muito bem vestida. Ao responder com um soneto, que nem de perto ressoa o brilho da poesia do único e verdadeiro poeta da família Cunha Lima, Pedro mostra que as supostas palavras ditas por João Azevêdo devem ter calado fundo nos que usam apenas “verso e prosa” em vez de obras concretas para enganar a população.

O que João disse, na verdade, cabe para Pedro, e não para o poeta, que, no meu entender, ao contrário de um ataque, o que governador fez foi homenagear o tempo dos grandes políticos de Campina Grande, entre os quais qual Ronaldo Cunha Lima é, sem sombra de dúvidas, o maior deles.

Acompanhem comigo o que disse João:

“Essa cidade precisa voltar a ser o que essa cidade foi algum tempo atrás, que era liderança real nesse estado, porque havia um cuidado maior com essa cidade. Infelizmente, se perdeu esse cuidado, e se perdeu muitas vezes em versos e prosas. Os discursos eram muito bonitos, mas a ação, a prática, eram totalmente diferentes.”

Quando Campina foi liderança real na Paraíba? João também lembrou, o que deve ter doído ainda mais forte no coração de Pedro, que passou o tempo dos coronéis na política, que não cabe mais imposição, que a vontade não pode superar o diálogo, mencionando o impasse entre o prefeito Bruno Cunha Lima e a Câmara de Vereadores sobre a questão do orçamento.

“Isso a gente já enterrou, ou conversa ou não avança”, arrematou o governador.

Ronaldo Cunha Lima governou Campina entre 1983 e 1988, há mais de 30 anos, e criou uma legião de seguidores e admiradores, entre os quais eu me incluo, e seria um dos defensores do poeta se sentisse que o governador o tivesse atacado por usar o dom, dado a ele por Deus. A diferença mais importante entre Ronaldo e Pedro não está só na qualidade da poesia, que encantava as multidões que se reuniam em Campina e fora dela para escutá-lo. Ronaldo foi um grande político e um grande administrador, e foram essas qualidades que João homenageou no seu discurso.

Quem fez campanha usando verso e prosa foi Pedro. Fez isso muito em 2022. E agora, num ato falho, escolhe um poema para responder ao governador. E sem resposta para a crítica do governador, Pedro optou por usar Ronaldo como moleta. O poeta, me desculpem, não merece mais isso. Deixem ele descansar, evitem para o bem de sua memória, associá-lo a prática de sucessores como Pedro, que nada tem a ver com a visão de mundo e de política de um estadista como Ronaldo Cunha Lima.

Ronaldo deve ser lembrado e homenageado pelo exemplo de homem público que sempre foi. O poeta deve inspirar as novas gerações por sua obra, e não em associações de pouco brilho, por lacrações de internet.

Será essa a razão para os Cunha Lima, após a morte de Ronaldo em 2022, só terem colecionado derrotas nas eleições estaduais (em 2014, 2018, 2022)? É uma reflexão que Pedro poderia fazer, além de parar de uma vem de usar a memória de Ronaldo sempre que alguém lhe dirige alguma crítica a ele ou ao seu grupo familiar.