O tom ameno da voz, o palavreado de bacharel e o gestual de padre, dão a impressão de que o senador Veneziano Vital do Rêgo é um político ético, educado e leal. Quem se deixar enganar por essa primeira impressão terá dificuldades de perceber do que ele é capaz para atingir seus objetivos. Quem hoje escuta Pedro Cunha Lima falar sobre Veneziano, que, sempre que pode, faz rasgados elogios ao antigo adversário, fica com impressão de que o filho de Cássio caiu na lábia de Vené.
Como eu não acredito que nem Cássio nem Pedro sejam ingênuos porque ambos conhecem Veneziano melhor do que ninguém, eu coloco os elogios recentes na conta do cálculo político. Os dois conhecem Veneziano o suficiente para saber que o atual senador tem como uma de suas principais características pessoais ser dissimulado. Sonso para usar um termo mais popular. O dicionário é direto para definir essa característica da personalidade de Veneziano. “Aquele que finge não ter defeitos ou se faz de simplório, palerma, inocente, mas faz coisas reprováveis dissimuladamente ou pelas costas; manhoso, dissimulado, santo do pau oco.”
Como todo sonso que tem poder, Veneziano se deixa cercar de gente capaz de fazer o que o chefe manda, inclusive serviços sujos. Muita gente na Paraíba sabe o que os principais assessores de Veneziano são capazes e do que já fizeram. Faço questão de destacar, como exceção, Neto Franca, que é de João Pessoa, que eu conheço de perto e atesto ser um homem de bem. Essa tropa de choque de Veneziano está agora empenhada em destruir a imagem de Daniella Ribeiro. Enquanto Veneziano tenta dissimular o desprezo que sente pela também senadora campinense, a partir de um programa alugado a uma das rádios de Campina, assessores do vice-presidente do Senado fazem reiterados ataques a Daniella, que aceitou a briga e resolveu desmascarar o lobo vestido em pele de cordeiro, que só pensa em se reeleger, mesmo que para isso tenha de destruir quem atravessar seu caminho.
Veneziano está em desespero porque não tem mais padrinhos com quem contar para levá-lo de volta ao Senado, como fez Ricardo Coutinho em 2018, que entregou de bandeja a vaga na chapa majoritária que seria dele, caso tivesse se afastado do governo para concorrer. No Senado, chega a ser despudorado o uso de emendas parlamentares e do prestígio como vice-presidente do Senado para atrair prefeitos para o MDB de Michel Temer.
Até o cabelo Veneziano deixa crescer para ficar parecido com o “cabeludo” do passado, que só tinha, já ali, a casca de jovem. Quem sabe ele não acredita nas propriedades milagrosas dos fios longos, como os de Sansão. Porque, depois da surra nas urnas que ele levou em 2022, quando perdeu até para Nilvan Ferreira em Campina Grande, só um milagre em 2026 salvará Veneziano de uma derrota ao Senado, isso se ele não desistir antes. Lembrando que em 2022 Veneziano sequer elegeu a esposa deputada estadual.
Nada que esteja tão ruim que não possa piorar. Quando disse em entrevista concedida na última segunda, que Daniella Ribeiro só fazia “desfilar” no Senado, Veneziano despertou com essa declaração machista a combatividade adormecida que tornou Daniella uma das deputadas estaduais mais atuantes da história da Assembleia, e que a catapultou, sem escalas, direto para o Senado em 2018. Daniella não aceitou ser tratada como um bibelô, uma miss, alguém que não tem ideias e um povo a defender. Talvez Veneziano nunca tenha engolido a surra de quase 30 mil votos que recebeu de Daniella na eleição de 2018, quando de novo ficou em terceiro lugar na “amada Campina”, o que é mais um demonstração de que, quando depende apenas dos seus votos, o caminho de Veneziano é a derrota.
Ao dizer que Daniella só fazia “desfilar” no Senado, além de mostrar para as mulheres da Paraíba o focinho de lobo escondido atrás do rosto branco do carneiro, Veneziano revelou o quanto é sonso. Mas isso talvez não seja mais nenhuma novidade para o paraibano.