A condenação do jornalista Milton Figueiredo ao pagamento de R$ 5 mil por danos morais ao prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima (União Brasil), é preocupante. Mas ainda mais perturbador é o silêncio sepulcral das entidades que deveriam estar ao lado dele: a Associação Paraibana de Imprensa (API-PB), a Associação de Mídias Digitais da Paraíba (Amidi) e a Associação Campinense de Imprensa (ACI).
Nada. Nenhuma nota. Nenhuma manifestação de solidariedade. Nenhum repúdio ao gesto do prefeito, que, além de processar o jornalista, ainda foi às redes sociais comemorar a sentença como se calar a crítica fosse uma conquista digna de aplausos.
Milton não inventou fatos. Criticou a gestão municipal com veemência, utilizando figuras de linguagem e um estilo direto — marca de sua atuação. Foi punido judicialmente por isso, sob o entendimento de que suas palavras extrapolaram os limites da crítica política e atingiram a honra do gestor. Cabe discutir os limites da liberdade de expressão? Claro. Mas o que não cabe é esse mutismo coletivo de quem deveria defender o jornalismo crítico e a liberdade de opinião.
O que está em jogo não é apenas o destino de um jornalista. É a liberdade de todos que ousam questionar, denunciar, fiscalizar. Quando Milton é condenado e nenhuma entidade se posiciona, o recado que se transmite é perigoso: jornalistas estão por sua conta e risco.
E pior: enquanto os organismos representativos da imprensa se omitem, houve veículos que optaram por repercutir a condenação como se fosse uma vitória política do prefeito — em vez de ver nela uma clara tentativa de intimidação.
Esse silêncio grita. Grita em nossa mente, em nossa consciência, na nossa covardia institucionalizada. Grita que estamos falhando com quem está na linha de frente, levando pedrada para que a sociedade seja informada.
Hoje é Milton. Amanhã, pode ser qualquer um de nós. E, se continuarmos calados, talvez já seja tarde para dizer qualquer coisa.