Uma cerveja gelada, suando, é desejo de consumo de milhões de brasileiros.
Agora imagine, nesse desejo engarrafado, imagens das tragédias nossas de cada dia, que se repetem com frequência assustadora nas estradas do país, inserindo o Brasil entre os países com um dos trânsitos mais sangrentos do mundo.
Essa é a proposta (genial) apresentada pela senadora Nilda Gondim, já em tramitação no Senado Federal.
A ideia é análoga a exposição que ocorre nas carteiras de cigarros, alertando contra os malefícios do tabagismo – ação, aliás, que inibe e provoca queda recorde de consumo de cigarros no país.
Nilda, com bom senso e iniciativa que devem constranger sua colega de bancada, Daniella Ribeiro – cuja “safra” legislativa é permanentemente quebrada ou acéfala – sabe que terá que enfrentar o lobby pesado da indústria de bebidas.
Ela também sabe, contudo, que essa não é uma queda de braços perdida (temos a “jurisprudência” da indústria tabagista pra provar). E é extremamente necessária em um país que sepulta por ano em média 11 mil pessoas, vitimas de acidentes de trânsito.
A maioria desses sinistros envolve um condutor embriagado.
Para além das pilhas de cadáveres que a combinação de álcool e direção provoca, o excesso de consumo de bebidas no país já acendeu o sinal de alerta na saúde pública.
Uma pesquisa encomendada pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) ao Datafolha mostrou que 55% dos brasileiros com mais de 18 anos de idade consomem bebidas alcoólicas, sendo que 32%, ou seja, um em cada três indivíduos, consomem semanalmente.
Monitoramento feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS) confirma que somos um povo cachaceiro mesmo.
O brasileiro bebe 8,7 litros de álcool puro por pessoa a cada ano, contra a média global de 6,2 litros.
Na esteira dessa ressaca coletiva vêm as doenças e a violência.
Bons motivos para a gente parar, pensar e repensar antes de abrir a próxima garrafa.
E as cenas de nossas tragédias podem ser o estímulo que nos falta.