O desabafo em tom de protesto realizado por uma lenda da música autenticamente nordestina, o cantor e compositor Flávio José, em cima do palco do show que praticamente abriu o Maior São João do Mundo, é a demonstração incontestável da crise que vive o evento.
As duras palavras de Flávio José ganharam o mundo da internet e viralizaram de tal maneira que é difícil que algum paraibano, por mais desavisado que seja, não tenha delas tomado conhecimento:
“Eu me sinto na obrigação de comunicar vocês que ao chegar aqui disseram que eu só podia cantar por 1h10. Então, se ficar alguma fora do repertório, a culpa não é minha. Não foi uma ideia minha”, anunciou Flávio José.
O sanfoneiro de Monteiro, autor de obras inesquecíveis como “Caboclo Sonhador”, talvez jamais tenha sido tão humilhado como foi ontem. Mais dolorido ainda foi essa humilhação ter ocorrido no evento que se vangloria de ser a “maior festa junina do mundo”.
Visivelmente contrariado, Flávio José foi obrigado pela organização a encerrar seu show de forró antes do previsto para que o cantor sertanejo Gusttavo Lima subisse ao palco mais cedo. Flávio José teve de se explicar aos fãs de sua música porque estava encerrando sua brilhante apresentação:
“Infelizmente são essas coisas que os artistas da música nordestina sofrem. ‘Precisa cantar 1h30 não, 1h tá bom’. Vamos nos virar nos 30 aqui para ver se a gente atende a vocês”, disse ele em tom triste e indignado.
Não foi uma humilhação apenas a Flávio José o que ocorreu ontem no palco do Maior São João do Mundo. Todo nordestino que preza por sua música regional e os artistas que constroem carreiras para divulgá-la foram também insultados, ontem à noite, em Campina.
Com todo respeito a Gustavo Lima, é praticamente um crime cultural reduzir o show de uma lenda do forró como Flávio José para, possivelmente, atender a conveniência da agenda do sertanejo. Os erros em Campina Grande durante o evento têm acontecido um atrás do outro, mas dá tempo de corrigir essa sucessão de equívocos. Só estamos no terceiro dia da festa, mas se nada mudar, o São João de Campina Grande pode terminar chamuscado e o prefeito Bruno Cunha Lima pode pagar um alto preço caro por algo que ele não tem mais o comando.
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