O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarca neste domingo (21) para Nova York, onde abre, na próxima terça-feira (23), o debate de líderes da 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Como de tradição, o Brasil será o primeiro país a discursar, seguido pelos Estados Unidos.
A viagem ocorre em meio a um ambiente internacional de crescente tensão diplomática. Desde o retorno de Donald Trump à presidência americana, a relação entre Brasília e Washington tem sido marcada por atritos. A recente imposição de uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros pelos EUA acentuou o mal-estar. O governo Trump também tem criticado o Supremo Tribunal Federal (STF) pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sentenciado a mais de 27 anos de prisão por tentativa de golpe.
Apesar de não haver confirmação de encontro oficial, há possibilidade de Lula e Trump se cruzarem nos corredores da ONU, já que ambos discursam na mesma manhã.
Discurso estratégico
O discurso de Lula, ainda em fase final de ajustes, deve abordar temas centrais da política externa brasileira. Espera-se que o presidente reforce a defesa da soberania nacional e critique, mesmo que de forma indireta, as sanções unilaterais impostas pelos EUA. O tom será calibrado, segundo assessores, para evitar confronto direto, mas deixar clara a posição do Brasil.
Outros temas devem ocupar espaço relevante na fala: democracia, combate à desinformação, reforma das instituições multilaterais — especialmente o próprio Conselho de Segurança da ONU — e a necessidade de financiamento climático por parte dos países ricos.
Como anfitrião da COP30, que será realizada em Belém em novembro de 2025, Lula pretende cobrar compromissos concretos na área ambiental. O Brasil também deve apresentar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), voltado à preservação de biomas como a Amazônia.
Gaza, Ucrânia e encontros paralelos
Além do discurso na ONU, Lula participa de uma conferência promovida por França e Arábia Saudita para debater a guerra na Faixa de Gaza e a chamada “solução de dois Estados”. O presidente brasileiro tem sido um dos líderes mais críticos à ação militar de Israel, que ele classificou como “genocídio”. Em resposta, o governo israelense o declarou persona non grata.
Também estão previstas declarações sobre o conflito na Ucrânia, com renovado apelo por cessar-fogo — bandeira que o Brasil tem defendido em fóruns multilaterais.
Na quarta-feira (24), Lula lidera, ao lado do chileno Gabriel Boric e do espanhol Pedro Sánchez, o evento “Em Defesa da Democracia”, que terá como foco o combate ao extremismo político, às fake news e ao discurso de ódio.
Clima político e diplomático
A presença de Lula em Nova York coincide com uma nova fricção diplomática. O Itamaraty manifestou preocupação com a lentidão na emissão de vistos por parte dos EUA para membros da delegação brasileira.
Um dos episódios mais emblemáticos envolve o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que teve a viagem cancelada após o governo americano impor restrições à sua circulação no país. Em entrevista à GloboNews, Padilha classificou a atitude como “inaceitável” e uma “afronta” ao governo brasileiro. Os vistos da esposa e da filha do ministro, de 10 anos, foram revogados no mês passado.
A comitiva oficial ainda não foi divulgada na íntegra, mas deve incluir os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Marina Silva (Meio Ambiente), Ricardo Lewandowski (Justiça), o assessor especial Celso Amorim, além da primeira-dama Janja da Silva.
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