Em entrevista publicada nesta quarta-feira (30) pelo jornal norte-americano The New York Times, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou diálogo com os Estados Unidos diante da iminente aplicação de tarifas sobre produtos brasileiros, previstas para entrarem em vigor já no dia 1º de agosto. Segundo Lula, o governo brasileiro buscou diversas vezes abrir canais diplomáticos com autoridades americanas, mas não teve retorno.
“Todos sabem que pedi para fazer contato. Designei meu vice-presidente, meu ministro da Agricultura, meu ministro da Economia, para que cada um buscasse interlocução com seus pares. Até agora, não foi possível. Ninguém quer conversar”, lamentou o presidente ao jornal.
A principal crítica de Lula recaiu sobre a forma com que a nova política tarifária foi anunciada. De acordo com ele, após múltiplas tentativas formais de diálogo — incluindo dez reuniões com o Departamento de Comércio dos EUA —, a resposta veio apenas por meio de uma publicação no site do ex-presidente Donald Trump, anunciando o tarifaço contra o Brasil.
Lula rechaçou qualquer temor de represálias diplomáticas e reforçou a postura independente do Brasil. Segundo ele, a condução da política externa brasileira será feita com altivez, buscando o equilíbrio sem subordinação. “Estou preocupado, obviamente, com nossos interesses econômicos, políticos e tecnológicos. Mas o Brasil não negociará como país pequeno diante de um grande. O Brasil é soberano”, afirmou.
O presidente também respondeu a críticas sobre o tom adotado em relação ao governo americano. Disse que respeita a soberania dos Estados Unidos, mas que o Brasil exige o mesmo tratamento. “Na política entre dois Estados, a vontade de nenhum deve prevalecer. Não se resolve nada com gritos nem com submissão. É preciso buscar o meio-termo com respeito mútuo”, completou.
Caso as tarifas de fato sejam aplicadas, Lula afirmou que o Brasil buscará novos mercados. Ele citou a China como exemplo de parceiro comercial estratégico, e descartou qualquer alinhamento automático com disputas entre potências. “Se Estados Unidos e China quiserem uma nova Guerra Fria, nós não participaremos. Não tenho preferência. Tenho interesse em vender para quem pagar melhor. Negociar faz parte da minha natureza política”, afirmou.
Mensagem a Trump e referência a Bolsonaro
Ao ser questionado sobre a carta divulgada no site de Donald Trump — em que o ex-presidente dos EUA menciona Jair Bolsonaro como contraponto a Lula — o presidente brasileiro respondeu com firmeza: “Se ele quer transformar isso numa briga política, vamos tratar como política. Mas se quiser falar de comércio, sentemos à mesa. Não dá para misturar tudo”, alertou.
Lula reforçou que não tem ressentimentos pessoais ou ideológicos em relação a Trump: “Trump é uma questão do povo americano. Eles o elegeram. Eu não questiono isso e não quero que questionem o direito soberano do povo brasileiro”.
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