Já passou da hora de ouvir a população sobre o frequente debate em torno da mudança do nome da Capital paraibana.
Os temas debatidos diariamente no programa radiofônico Ô Paraíba Boa, nas manhãs da Rádio 100.5 FM e por canal no YouTube, vem repercutindo e levantando alguns questionamentos na sociedade. Um deles suscitada na semana passada pelo inquieto colega radialista Fabiano Gomes, propôs o retorno do debate envolvendo a mudança do nome da Capital da Paraíba, João Pessoa.
Pois bem, para a nossa surpresa, nesta quinta-feira (23), saiu a notícia de que o advogado Raoni Vita provocou o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB), com o intuito de realizar um plebiscito para saber se a população aprova ou não a mudança no nome da capital paraibana. O ato é constitucional, e propõe que a escolha popular ocorra no dia 6 de outubro de 2024, junto com a eleição municipal.
A mudança do nome da capital João Pessoa é um tema polêmico, bastante recorrente nas casas legislativas, nos meios acadêmicos, na imprensa e nas rodas de conversa nas esquinas e praças. Desde 2007, que o ‘Movimento Paraíba Capital Parahyba’, formado por historiadores, geógrafos, jornalistas, artistas e profissionais liberais, defendem essa que seria uma “correção histórica”.
Em 2013, houve até uma campanha para coleta de assinaturas para pedir à Assembleia Legislativa da Paraíba a instalação de um plebiscito sobre o nome da cidade de João Pessoa.
Mas, a ideia não prosperou e, de fato, nunca a população foi convidada a opinar oficialmente sobre o tema.
A grande questão que está em jogo, é se a população vai querer mudar o nome da cidade após 93 anos.
Será que vale a pena retirar a denominação de uma Capital de Estado que há tantas décadas está consolidada nos mapas, em documentos históricos e, principalmente, na mente e no conhecimento popular?
CONTEXTO HISTÓRICO
Para colaborar humildemente com esse debate, se faz necessário que as pessoas relembrem, minimamente, o contexto histórico que envolve João Pessoa, o político que foi homenageado com o nome da nossa principal cidade.
Para começo de conversa, é bom saber que o único Estado brasileiro cuja Capital tem o nome de uma pessoa, é a Paraíba.
Segundo, como certa vez disse o Mestre Fuba, ex-vereador e agitador cultural, “João Pessoa nunca foi um herói. A verdade é que ele foi um grande filho da mãe”.
Historiadores, geógrafos, artistas plásticos, músicos, escritores, jornalistas, estudantes e educadores argumentam que João Pessoa foi um político controverso. O seu governo implantou uma forte política de taxação do comércio, com barreiras tributárias a cada 20 km de estradas – o que lhe rendeu o apelido de “João Cancela”.
O então Presidente da Província também teria colecionado inimigos e perseguido vários deles, sobretudo, indivíduos que pertenciam as famílias tradicionais do Sertão paraibano.
A morte dele, inclusive, é apontada como resultado de perseguição ao advogado e jornalista, João Dantas, membro de uma das principais oligarquias locais, ligado a uma corrente política que fazia oposição a João Pessoa.
Dantas teve um caso amoroso com a professora e poetisa, Anayde Beiriz, exposto na época para toda sociedade por ordem de João Pessoa, que teria determinado a publicação de cartas de amor entre os dois, apreendidas pela PM na época, no Jornal A União, veículo impresso do Estado, com o objetivo de atingir a honra do desafeto político.
Em julho de 1930, o rival “lavou a honra” e se vingou dando três tiros em João Pessoa na Confeitaria Glória, no Recife-PE.
Os historiadores encaram o episódio como um crime político, motivado pelo combate de João Pessoa contra as oligarquias locais. É aí que está a contradição.
A mudança do nome da cidade aconteceu em meio ao clima de comoção após o controverso assassinato.
No dia 4 de setembro de 1930, a Capital paraibana ganhou este nome em homenagem ao então presidente da província e candidato a vice-presidente da República na chapa de Getúlio Vargas. Até então, a cidade chamava-se Parahyba.
A morte é apontada por historiadores como o estopim da Revolução de 1930, que derrubou o então presidente Washington Luís e levou Vargas ao poder.
A homenagem ao político João Pessoa também teria uma cabeça pensante nos bastidores, a ação de um “marqueteiro” por trás, o magnata das comunicações na época, Assis Chateaubriant, líder dos Diários Associados, que seria um dos responsáveis pela criação do mito em torno do então governador paraibano.
DEBATE NECESSÁRIO
Por fim, entendo que em caráter de reparação histórica, sem sombra de dúvidas o melhor seria mudar o nome da cidade. A nossa Capital é privilegiada geograficamente por ser o ponto extremo oriental das Américas, é repleta de beleza naturais, bonita e aconchegante demais para ter um nome de um político. O nosso povo não merece esse eterno “luto”.
Contudo, entendo que colocar essa discussão em prática não será algo fácil. É preciso analisar com calma todos as questões envolvidas para saber se a mudança de nome da Capital trará mais benefícios do que malefícios, afinal a nomenclatura João Pessoa está consolidada nacionalmente e internacionalmente.
Esse tema precisará ser amplamente debatido, com uma ampla campanha explicando os prós e os contras de uma mudança como essa. Caberá exclusivamente à população essa definição, e o melhor meio, certamente, é o plebiscito.