Ela não é uma anciã. Uma mera “quatrocentona” da elite paulista. Respira a moçoila de forma graciosa seu aromático perfume. Incendeia com todo seu esplendor becos e vielas do seu magnífico Centro Histórico.
Sua canção barroca ganha uma tonalidade azul piscina nas suas praias dotadas de areia branca e finíssimos grãos. Grãos finos, belos e duradouros. Grãos que fazem ruborizar o mais raro diamante.
Sim, estou a falar da cidade que me adotou. Deu colo e colostro salvador por toda minha juventude. Pariu-me já adulto. Um “Macunaíma” de Mário de Andrade, embora deva explicar que caráter eu tenho.
Sim, falo de João Pessoa e seus bem vividos 438 anos. Um primor de cidade que soube manter viva suas tradições culturais sem esquecer o progresso.
Porto do Capim, Rua das Trincheiras. Cidade alta e baixa. Uma casa com pólvora para empreendimentos gigantescos. Casario tranquilo em Jaguaribe, asfalto tecnológico que costeia o litoral evitando ferir a natureza.
João Pessoa de tantos Arianos, Chicós e Gilós. De um palácio que dá ao morador ou visitante a redenção divina da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco. Uma capela dourada que faz meu coração pulsar com mais rapidez e firmeza.
Nossa Senhora das Neves intercedei por mim e outros tantos gloriosos! Venha Filipeia! Aprochegue-se Frederica, pois em Frederikstad a Parahyba já chega para esse belo baile perfumado.
Ah, pessoa de João, és fruto de rara beleza. E, para mim, és linda, tal qual sua prima de nome Olinda. Terra de reis e rainhas. Príncipes bem mais importantes que Nassau. E sim, é fato: és a terceira cidade mais antiga de Pindorama, da terra do pau-brasil.
Cobiçada por holandeses, portugueses e, quem diria, por um punhado de franceses. Aquelas pessoas que vêm lá das bandas de Macron e sua Eiffel. Mas e daí? Teu povo vem dos Potiguara, Tabajara, negros. És, sim, o mais puro retrato da miscigenação brasileira.
E como eu gosto do seu sabor, moça danada! Tens hálito puro, cheiro de Festa das Neves e a mais pura confluência envolvendo Monga e sua maçã do amor. Um deleite e terror infantil perfeito para as tardes festivas do teu aniversário. A linda capital da Paraíba e seu verde exuberante.
Aqui Narciso é belo e não necessita de espelho. Ícaro voa desprovido de asas e sonhos. Zeus povoa teu ventre imaculado e observa teus passos ligeiros do Olimpo sem reclamar. Apenas sorri e fica apaixonado.
João Pessoa de muitas etnias, credos e costumes. Iemanjá anda de mãos dadas com judeus, católicos, budistas, evangélicos, espíritas, mulçumanos e ateus, graças a Deus! Terra ecumênica, tens muitas facetas.
Cordão azul ou encarnado? Não se sabe, pois a democracia do festejo de Momo dita as regras do circo. Aquele vindo do Centro Cultural Piollin e que escorre pelas escadarias do Beco da Malagrida.
És fantástica Felipeia, com brilho incandescente da Parahyba. E sempre fazendo-se presente na corte de Frederikstad. Chega João Pessoa para cortejar sua majestade! A rainha de todos e tudo e um pouco mais.
E sim! Nasci em Campina Grande, passei minha meninice em Guarabira, mas estou em ti, pois se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi.
E assim! Espero viver muito mais sobre os poemas de Mané Caixa d’Água e seu verbo abrumar. E o que é abrumar? E o velho Caixa disse: “É coisa de mãe. Eu vou lá saber coisa de mãe?”.
E aí eu completo: só João Pessoa tem a beleza pura dos “loucos”. O resto é fato para os historiadores contarem nos livros e salas de aula, pois a minha e a sua capital é plural, e cada um deve ter sua própria versão ligada, claro, à paixão numa balada de muitos gostos e aromas sinceros