O portal Fonte83 estreia, o TBT da Política homenageando uma das figuras mais respeitadas da história paraibana: Antônio Marques da Silva Mariz. Falecido em 16 de setembro de 1995, quando exercia o cargo de governador, Mariz deixou um legado que transcende sua curta gestão e ecoa até hoje como símbolo de integridade, compromisso público e sensibilidade social.
Natural de João Pessoa e com raízes políticas em Sousa, Mariz construiu uma trajetória marcante como promotor de Justiça, prefeito, deputado federal, senador e membro da Assembleia Nacional Constituinte de 1988. Foi também relator do processo de impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992, no Senado Federal.
Sua atuação como político, no entanto, sempre esteve ancorada em valores raros — mesmo entre os bem-intencionados. Aos 57 anos, Mariz faleceu vítima de um câncer, apenas nove meses após assumir o Governo da Paraíba, vencendo a eleição de 1994 mesmo gravemente debilitado. Seu lema, “Governo da Solidariedade”, indicava o projeto de gestão inclusiva que idealizava, mas teve pouco tempo para concretizar.
Jornalistas comentam legado do ex-governador
“Mariz era diferente”

O jornalista Walter Santos, que foi secretário de Comunicação do governo Mariz, relembra o perfil raro do ex-governador: “Apesar de muito sofisticado, Mariz era um homem de hábitos simples. Ele ouvia as pessoas, todas elas. Sentava no chão com juristas para debater o impeachment de Collor, traduzia livros jurídicos do inglês, fumando sem parar, com uma serenidade impressionante. Foi o político mais exemplar com quem convivi”, disse ao portal Fonte83.
Walter também destacou o espírito inovador de Mariz ainda jovem, como prefeito de Sousa nos anos 60, quando criou um quadro de prestação de contas públicas na sede da prefeitura e ia semanalmente ao rádio explicar, centavo por centavo, onde o dinheiro do município estava sendo aplicado.
Um político à frente do seu tempo

O cientista político Flávio Lúcio Vieira considera Mariz “o maior político da história da Paraíba”. Para ele, mesmo tendo governado por menos de um ano, o ex-governador deixou marcas profundas na política paraibana: “Mariz sempre foi um nacionalista convicto, se opôs às privatizações de Collor e teve atuação fundamental na Constituinte. Era respeitado por juristas e intelectuais do Brasil inteiro. Se tivesse tido tempo, seu governo teria sido transformador”, destacou à reportagem do portal Fonte83.
O professor também lembrou dos embates políticos da juventude de Mariz, das perseguições sofridas durante a ditadura militar e das disputas com lideranças como Marcondes Gadelha. Em meio a esse cenário, foi construindo uma reputação firme, mesmo quando teve de transitar entre partidos devido às conjunturas políticas da época.
Honestidade como princípio, não discurso

Rubens Nóbrega, jornalista com 51 anos de carreira, trouxe um episódio que sintetiza a retidão moral de Mariz. Durante os anos em que esteve licenciado do cargo de promotor para exercer mandatos, o Ministério Público continuou depositando seus vencimentos. Ao deixar o Congresso, Mariz percebeu o acúmulo e, imediatamente, determinou a devolução do valor.
“Legalmente, ele poderia ficar com aquele dinheiro. Mas sua consciência dizia que não era moralmente aceitável. Esse era Mariz. Um homem que não negociava com os próprios princípios”, afirmou ao portal Fonte83.
Memória viva
Mariz foi preso e afastado do cargo de prefeito em 1964, acusado de subversão, por defender reforma agrária, salário mínimo e prestação de contas públicas. Ainda assim, retornou ao cargo e manteve firme sua linha política progressista. Já como deputado, foi um dos nomes mais respeitados do MDB durante a redemocratização.
Foi presidente da Subcomissão dos Direitos e Garantias Individuais na Constituinte de 1988, onde ajudou a moldar cláusulas fundamentais da Constituição Cidadã. Como senador, sua atuação no processo de impeachment de Collor ficou marcada pela sobriedade, responsabilidade jurídica e firmeza moral.
“Uma vida dessas, nós reverenciamos”
Trinta anos após sua morte, Antônio Mariz continua sendo referência quando se fala em ética na política brasileira. Sua breve passagem pelo Palácio da Redenção foi suficiente para lançar alicerces de políticas sociais e para reafirmar, em gestos concretos, que é possível fazer política com decência.
“Não há morte que encerre o sentido de uma vida como a de Mariz. Ele permanece como exemplo, como legado. Uma vida dessas, nós reverenciamos — porque é inesquecível”, concluiu Walter Santos.
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