A Paraíba vive mais um episódio em que a Justiça parece falhar com quem deveria proteger. Na madrugada desta segunda-feira (2), foi confirmada a morte de Maurílio Silva de Araújo, de 48 anos, atropelado enquanto trabalhava limpando a calçada de um prédio no bairro do Bessa, em João Pessoa.
Maurílio era um trabalhador vindo do Sertão, da cidade de Santa Luzia, que sonhava com uma vida melhor na Capital. Dedicado, era caseiro, mototaxista e também atuava como auxiliar de limpeza. Um homem simples, honesto e perseverante, que acordava cedo para cuidar do que era de todos. E que, infelizmente, teve sua vida arrancada por um jovem irresponsável que decidiu dirigir embriagado.
O autor do atropelamento é Arthur José Rodrigues de Farias, estudante de medicina de 22 anos e filho da prefeita de Pilar, Patrícia Farias. Ele voltava de uma festa de formatura, com sinais visíveis de embriaguez, quando perdeu o controle do carro, subiu na calçada e matou Maurílio.
Foi preso em flagrante, mas não passou muito tempo na cela. Em audiência de custódia, foi solto após pagar R$ 15 mil de fiança. A Justiça ainda lhe concedeu o privilégio de responder em liberdade, com pequenas restrições: está proibido de beber em público, não pode sair de casa à noite e terá a CNH suspensa.
Enquanto isso, Maurílio foi “liberado” para ser velado. Para ir ao cemitério, de onde nunca mais sairá.
Essa é a Paraíba real: a do trabalhador que morre cedo demais e do filho da prefeita que volta para casa como se nada tivesse acontecido. O paralelo com o caso Ruan Macário é inevitável. Assim como Ruan, Arthur é jovem, estava alcoolizado e dirigia com imprudência. Assim como Ruan, matou. E, ao que tudo indica, poderá seguir sua vida com leves arranhões na ficha — se tanto.
A Justiça brasileira precisa decidir o que ela quer ser: um instrumento de equidade ou um sistema de blindagem para os privilegiados? A vida de Maurílio vale menos porque ele não tinha sobrenome influente? Porque não estudava medicina? Porque não era “filho de”?
A sociedade paraibana já viu esse filme. Já sentiu na pele a dor de ver um assassino do volante se beneficiar da lentidão e das brechas da Justiça. E não aceita mais.
Não é só um caso de trânsito. É uma escolha coletiva: vamos permitir mais um “caso Ruan Macário”? Ou vamos exigir que a Justiça seja feita, ainda que o réu use terno e seja filho de quem for?
A resposta está sendo escrita agora — nas ruas, nos tribunais e na memória de uma família que enterra um homem digno, morto enquanto trabalhava.