E se João Azevêdo ficar?; por Flavio Lucio

Por Fonte83 - 11/12/2023

Mais que seu desejo, João Azevedo já antecipou sua intenção de se candidatar ao Senado em 2026, e não fez isso, como em geral acontece, por meio de amigos próximos, que, em geral, “vazam” para a imprensa:

“Meu nome estará à disposição do partido para disputar o Senado em 2026. Não é imposição, estou dizendo que colocarei meu nome. Se o partido entender que isso é uma coisa boa, estarei à disposição”, disse ele em 22 de setembro desse ano.

Dias depois, o governador, em pessoa, participou de uma reunião, entre outros, com os deputados federais Aguinaldo Ribeiro e Hugo Motta, presidentes do Progressistas e do Republicanos, respectivamente, quando praticamente foi fechada a chapa majoritária que será lançada para eleições de governador.

É de causar estranheza, portanto, os últimos movimentos de membros do Progressistas em cidades estratégicas da Paraíba, todos muito próximos de Aguinaldo Ribeiro, registre-se, o maior beneficiário do afastamento de João Azevedo do governo, já que ficaria aberto o caminho para Lucas Ribeiro (PP) assumir o governo e ser candidato à reeleição, ou apoiar a candidatura do tio a governador.

Em Cajazeiras, por exemplo, o prefeito José Aldemir agiu para dividir o PSB local, que tem dois deputados estaduais, atraindo para sua aliança o grupo do deputado estadual Júnior Araújo, um duro golpe na candidatura de Chico Mendes, que será o candidato do PSB à prefeitura de Cajazeiras, o candidato de João Azevedo, portanto. Não apenas isso. A senadora Daniella Ribeiro convidou em seguida a esposa de Júnior Araújo, Emília Araújo, para presidir o PSD local, pavimentando o caminho para o deputado mudar de partido quando a ocasião chegar.

No Sertão, os problemas não se ampliam a Cajazeiras. Em Itaporanga, a senadora Daniella Ribeiro abriu as portas do PSD para o ex-prefeito Audiberg Alves, um ferrenho opositor local de João Azevedo. Segundo o Diário do Sertão, Berguinho, como é mais conhecido, pretende se candidatar à prefeitura de Itaporanga contra o candidato apoiado pelo atual prefeito, Divaldo Alves, do PSB. Em Itaporanga, João Azevedo (e Lucas Ribeiro, filho de Daniella Ribeiro) obtiveram 54,8% dos votos.

E os problemas entre os Ribeiro e o PSB não se restringem ao Sertão. Em Mamanguape, por exemplo, a situação se inverte. Daniella Ribeiro articulou o lançamento da candidatura do deputado estadual Eduardo Carneiro , do Solidariedade, contra o grupo da prefeita Eunice Oliveira, que também é filiada ao PSB. Eduardo Carneiro apoiou a candidatura de Pedro Cunha Lima, que venceu na cidade. Ou seja, se dependesse do novo aliado da senadora, Lucas Ribeiro seria hoje vice. Vice-prefeito de Campina Grande. Tem alguma coisa fora da órbita, não é mesmo

O deputado estadual Felipe Leitão lançou recentemente, pelo PSB, a candidatura de sua esposa, Tacyana Leitão, à prefeitura de Bayeux, com o apoio da atual prefeita, Luciene de Fofinho. Poucas semanas depois do ato de lançamento de Tacyana, ao qual João Azevedo compareceu, o prefeito de Santa Rita, Emerson Panta, deixou “vazar” para a imprensa que sua esposa, a deputada estadual Jane Panta, pode transferir o título para Bayeux para entrar na disputa pela prefeitura. Ambos são filiados ao PP.

Para não mencionar o relacionamento mal resolvido entre o PSB de João Pessoa e o prefeito Cícero Lucena, também do Progressistas, que tem reflexos, estes inconciliáveis, na importante cidade de Cabedelo, o terceiro maior orçamento entre os municípios paraibanos. Na cidade portuária, o prefeito Vitor Hugo, que pertence ao grupo político de Cícero e Mersinho Lucena, já lançou candidato para enfrentar o presidente da Companhia Docas, Ricardo Barbosa, do PSB.

Pode ser que esses movimentos não sejam parte de uma estratégia e, portanto, não tenham o dedo de Aguinaldo Ribeiro. Acredito mesmo que é provável que não tenha, porque tendo a achar que um político com a capacidade e a experiência política de Aguinaldo Ribeiro, que o fez acumular tanto poder na Paraíba e fora dela, apostaria tão alto contra seu principal aliado no estado, que é João Azevedo — 2022 foi a maior demonstração disso, pois o governador manteve a aliança com o Progressistas, mesmo diante das pressões do Republicanos, o maior partido da aliança.

Porém, quem vê de fora fica com a impressão de que Aguinaldo Ribeiro, com seus tentáculos políticos, monta um verdadeiro cerco ao PSB de João Azevedo. No tabuleiro político, o que vemos em curso por parte do Progressistas se assemelha muito a um ataque organizado e sincrônico às peças de João Azevedo, que, depois de 2024, pode ficar com sua Rainha exposta e sob ameaça.

Como em política, gestos são mais relevantes do que palavras, acredito que o mais prudente para Aguinaldo Ribeiro seria agir para deter os conflitos em curso entre o seu partido e o partido do governador. Do contrário, 2024 pode representar uma ferida aberta difícil de ser curada.

Em um trecho da frase de João Azevedo mencionada acima (“não é imposição, estou dizendo que colocarei meu nome. Se o partido entender que isso é uma coisa boa, estarei à disposição”), notem que o governador deixou uma janela aberta. Ele fez questão de deixar a critério do PSB essa decisão, e seu partido a tomará conforme a conjuntura da época, levando em conta a avaliação do governo e, portanto, também a capacidade do partido de eleger o sucessor, com ou sem aliança com o PP. E o provável é que o quadro que se delineie é João Azevedo chegar em 2026 com o dobro do tamanho político e eleitoral que tem hoje.

Acredito no desejo genuíno de João Azevedo ser candidato ao Senador em 2026, como era o de Ricardo Coutinho, em 2018. O que levou RC a permanecer no governo? A falta de confiança em Lígia e Damião Feliciano. E os Feliciano não tinham nem de longe o peso que têm os Ribeiro na política paraibana, hoje. Tem mais. Entre 2018 e 2026, oito anos terão se passado. O ambiente político nacional será outro, sobretudo com Lula candidato à reeleição com amplo favoritismo, ainda mais no Nordeste — mas esse será um assunto que trataremos em breve com mais detalhe. Enfim, se ficarem dúvidas a respeito da lealdade de Aguinaldo Ribeiro no teste de fogo para a aliança, que serão as eleições de 2024, João Azevedo pode ser convencido por números de pesquisas e projeções de cenários a ficar no governo. Lula também apostaria nesse projeto?

Por ora, é recomendável evitar apostas. João Azevedo tem mais três anos de governo e, portanto, muita água ainda vai rolar por baixo dessa ponte. O cenário que hoje se apresenta é o Progressistas chegar ao governo em 2026. Isso, porém, não é um fato consumado, porque até lá, o desafio de Aguinaldo Ribeiro será manter a aliança vitoriosa de 2022 não apenas em 2026, mas em 2024, também.

Para evitar que essa construção degringole, Aguinaldo Ribeiro terá de dar mais atenção ao seu terreiro, já que, por aqui, a ameaça de incêndio é cada vez maior, com ameaça de se espalhar.