DE FOGUETE A TRATOR: Pedro vai se contentar em voltar à Câmara para apoiar Efraim?; por Flavio Lucio

Por Fonte83 - 25/10/2023

Nem bem os votos da eleição do ano passado terminaram de ser contados, o senador eleito e empossado, Efraim Filho, se colocou em campo como candidato a governador da próxima eleição, fechando desde logo o caminho de Pedro Cunha Lima, que seria o candidato natural da oposição. Nesse avanço sobre o terreno do aliando, Efraim ofereceu ao prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima, e este aceitou, filiar-se ao União Brasil, partido do qual se tornou dono na Paraíba, mais um movimento para isolar Pedro, agora no colégio eleitoral que foi sua maior base na última eleição, onde obteve 67,36%.

Sem prefeitos porque sem mandato federal, Pedro Cunha Lima é obrigado, aparentemente, a ceder a vaga de candidato a governador, aceitando abrir mão de uma candidatura que, por direito, foi conquistada nas urnas, quando disputou o governo, obtendo quase 48% dos votos. É bom relembrar o quadro eleitoral do final de 2021, quando tudo apontava para mais uma derrota da oposição na Paraíba. Na ausência de nomes considerados mais competitivos, como o de Romero Rodrigues, Pedro aceitou o desafio de ser candidato a governador, decisão que foi, para alguns, considerado um ato de sacrifício pessoal, já que ele abandonava ali a chance de se reeleger deputado federal para não deixar seu grupo político órfão de um nome na disputa majoritária.

Por isso, considero inexplicável o fato de Pedro Cunha Lima não ter saído da disputa de 2026 já com candidatura ao governo lançada pelo grupo de oposição do qual faz parte. Vale refletir. Efraim Filho teria sido eleito senador caso Pedro Cunha Lima não tivesse sido candidato a governador, o que abriu o palanque que faltava para que seu “foguete” saísse do chão?

E mais. Quem, entre os nomes hoje apontados como potenciais candidatos da oposição, começaria hoje essa jornada com um portfólio eleitoral do calibre que Pedro Cunha Lima construiu, depois de oito anos de atuação na Câmara Federal e uma candidatura ao governo? Além do recall, a campanha de governador tornou conhecido seu discurso, estadualizou sua imagem, mais que tudo, conferiu-lhe personalidade, traços políticos que permitiu-lhe deixar de ser apenas o “filho de Cássio”, atributo pouco lembrado durante a campanha, para ser um político com ideias próprias e um candidato com programa ousado.

Em entrevista concedida ao programa Ô, Paraíba boa, com Fabiano Gomes, Ângelo Medeiros e Bruno Filho, na última sexta, fui questionado a respeito das escaramuças que envolvem Bruno Cunha Lima e Romero Rodrigues, em Campina Grande, e das relações tensas entre os dois por conta das eleições de 2024 e de 2026. Na resposta, comecei lembrando de um personagem político do qual pouco se fala hoje quando o assunto é a sucessão de João Azevedo: Pedro Cunha Lima. E por quê? Porque que não dispõe de estrutura para ser candidato.

Se argumento que usa as máquinas administrativas como principais impulsionadores de uma campanha eleitoral não deve ser subestimado, superestimá-lo é outro erro recorrente. Os casos que corroboram essa tese são inúmeros. Romero Rodrigues se reelegeu prefeito de de consenso por larga margem, em 2016 e, mesmo assim, não se viabilizou como candidato da oposição na eleição seguinte para o governo estadual. O que levou Romero a seguir outro caminho? A proverbial indecisão ou uma leitura racional do quadro político e eleitoral da época? No caso de José Maranhão, em 2010, uma das principais causas de sua derrota foi a crença de que só lhe bastava a “máquina” para conquistar a reeleição.

No caso de Pedro Cunha Lima, que disputou o governo da Paraíba numa enorme desigualdade de condições, e mesmo assim quase a vence a eleição, apesar de contar com o apoio do prefeito de Campina, em João Pessoa não contou com o apoio de um único vereador e, mesmo assim, obteve mais de 58% dos votos, mesmo enfrentando a força das máquinas do governo estadual e da prefeitura de João Pessoa coligadas. Repetiria o feito? Não tem como saber.

O certo é que o jogo da política é bruto e Efraim Filho, em 2026, perdendo ou vencendo a eleição, terá pela frente mais quatro anos de mandato e isso lhe permite ousar para o governo, como fez Veneziano em 2022. Além disso, o senador do União Brasil tem meios para compor um palanque amplo, atrair apoios e se viabilizar como candidato. Diferente de Pedro Cunha Lima, que só tem o desempenho eleitoral e uma oportunidade política de ser candidato a governador, agora em condições muito mais favoráveis, mas que pode ser única.