A passagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela Paraíba teve, sem dúvidas, um personagem central além do próprio mandatário: o governador João Azevêdo (PSB). Entre afagos públicos, gestos simbólicos e discursos alinhados, Azevêdo mostrou que é, hoje, um dos principais aliados do presidente no Nordeste – e talvez o mais bem posicionado da região para voos mais altos em Brasília.
Lula, em tom bem-humorado e afetivo, fez questão de referendar João como parceiro político, rasgando elogios e até enviando coraçõezinhos ao público, com a desenvoltura de quem deixou para trás a frieza de outras visitas. Vale lembrar que, até pouco tempo atrás, o presidente evitava declarar apoio com entusiasmo ao governador paraibano, muito em função das confusões internas do PT local e suas lideranças – que ainda hoje sofrem com divisões e vaidades que minam sua própria força.
O destaque de Azevêdo ao lado de Lula não passou despercebido, nem mesmo com a presença de figuras como o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que tentou atropelar o projeto de reeleição do governador em 2022. João se impôs, discursou com propriedade, elogiou as ações do governo federal e fez questão de fincar sua identidade na luta por dignidade e acesso à água no semiárido – um tema que toca fundo o coração do povo nordestino. “Lula, você trouxe vida, trouxe dignidade para pessoas que não tinham água em suas torneiras”, destacou o governador paraibano.
Mas se o entrosamento entre Lula e Azevêdo foi um ponto alto da agenda, o discurso presidencial, por outro lado, deixou margem para críticas. O tom, por vezes, escorregou para o comício – algo que se tornou quase marca registrada de Lula –, e a frase sobre “Deus ter deixado o Sertão sem água porque sabia que ele seria presidente” soou arrogante e desnecessária, para dizer o mínimo. Para muitos, passou do limite entre o carisma, o exagero e a soberba.
Além disso, o presidente não perdeu a oportunidade de mirar no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com ataques diretos e frases de efeito. “Nunca mais esse país vai ter um presidente negacionista”, disse Lula em discurso. Pode ter agradado à militância, mas a postura reforça a sensação de que Lula já entrou em campanha. Em 2025. Ainda que falte um bom tempo até 2026, Lula parece mais confortável em reviver palanques do que em enfrentar os desafios administrativos que ainda estão por resolver.
Ao fim, a visita serviu mais como um ensaio eleitoral do que como uma agenda institucional. João Azevêdo saiu fortalecido – com moral em alta junto ao Planalto e pavimentando, quem sabe, o caminho para uma vaga no Senado ou até mesmo um ministério no futuro. Lula, por sua vez, saiu reafirmado entre os seus, mas ainda precisa agir como estadista num momento em que o povo precisa mais de soluções do que de palanques.