Quase um terço do eleitorado da Paraíba está concentrado na Região Metropolitana de João Pessoa e em Campina Grande. São cinco municípios que, sozinhos, reúnem mais de 1 milhão e 100 mil dos 3 milhões e 300 mil eleitores paraibanos. O desempenho de um candidato a governador nesses colégios eleitorais — sobretudo se for de oposição — pode separar a vitória de uma derrota.
Portanto, para uma estratégia eleitoral bem ajustada nas eleições da Paraíba, é cada vez mais necessário, penso eu, que as campanhas levem em conta a profunda mudança no perfil do eleitorado, que se tornou muito evidente na Região Metropolitana a partir de 2018, embora naquela eleição não tenha ainda produzido efeitos decisivos em razão do bolsonarismo, que apenas começava a se organizar.
Em 2018, enquanto Jair Bolsonaro venceu em João Pessoa com 54,8%, interrompendo uma sequência de vitórias do lulismo em eleições presidenciais — iniciada em 1989, quando Lula derrotou Fernando Collor por 56,4% a 43,7% —, João Azevêdo, do PSB, obteve 56,44% no primeiro turno, contra 31,44% de Lucélio Cartaxo, irmão do então prefeito pessoense, Luciano Cartaxo. Para o Senado, a campinense Daniella Ribeiro foi a mais votada, com 27,9% dos votos. Aliás, entre os quatro candidatos mais votados em João Pessoa, três eram de Campina Grande (além de Daniella, Veneziano Vital e Cássio Cunha Lima).
Em 2020, essa tendência se consolidou na eleição para prefeito da capital. Um acontecimento marcou aquela disputa, além do bolsonarismo já em avançado processo de organização: a Operação Calvário, que impactou fortemente a liderança de Ricardo Coutinho. E os resultados demonstram isso. Dos seis candidatos mais votados no primeiro turno — Cícero Lucena (20,72%), Nilvan Ferreira (16,61%), Ruy Carneiro (16,37%), Wallber Virgolino (13,92%), Edilma Freire (12,93%) e Ricardo Coutinho (10,68%) —, os quatro primeiros não tinham até então qualquer vínculo com o campo dito de esquerda, e dois deles (Nilvan e Wallber), que juntos somaram mais de 30% dos votos, eram bolsonaristas declarados. E digo mais: nenhum outro candidato apoiado pelo governo estadual, naquela conjuntura, teria condições de disputar e vencer aquela eleição, exceto um com o perfil mais ao centro, como o de Cícero Lucena.
Após quatro anos de governo Bolsonaro, a eleição para governador de 2022, em João Pessoa, mostrou certo esgotamento da polarização, ainda que tenha mantido a tendência predominante de antipetismo. Para presidente, Lula venceu Bolsonaro por uma margem mínima — menos de mil votos. Para o governo estadual, o candidato de perfil centrista e que fez questão de não se associar a nenhuma candidatura presidencial, o campinense Pedro Cunha Lima, surpreendeu com uma ascensão meteórica no primeiro turno e, no segundo, venceu o candidato à reeleição, o pessoense João Azevêdo — nascido e criado no bairro de Cruz das Armas —, obtendo quase 60% dos votos. Vale lembrar que Azevêdo contava também com o apoio do prefeito Cícero Lucena. Faltou a Pedro unha Lima o que sobrou a João Azevedo: tempo e estrutura de campanha para manter o fôlego na reta final.
Na eleição de 2024, o eleitor manteve a mesma disposição. Quais foram os candidatos com posições mais ao centro em João Pessoa? Cícero Lucena e Ruy Carneiro — ambos sem apoio do PT ou do PL. Ruy Carneiro, contudo, que no início da campanha aparecia como o nome mais viável para o segundo turno, naufragou ao se associar, numa “frente ampla” contra Cícero, aos candidatos do PT (Luciano Cartaxo) e do PL (Marcelo Queiroga).
Obviamente, Cícero não venceu apenas por conta disso, mas o fato de o prefeito não estar vinculado à polarização nacional, sobretudo ao PT, permitiu que o julgamento do eleitor se concentrasse em seu desempenho administrativo na prefeitura, e não em um debate ideológico vazio e despolitizado. Queiroga ficou em segundo lugar, com votação que corresponde aproximadamente ao tamanho do bolsonarismo em João Pessoa; Cartaxo (11%) representou o tamanho do PT, agregado ao seu desempenho pessoal de ex-prefeito — as candidaturas a vereador do partido, somadas, não chegaram a 17 mil votos. A eleição de apenas um vereador em João Pessoa é um retrato bastante fiel do tamanho atual do PT na capital. Há questões históricas e estaduais mais amplas que explicam essa crise, mas não cabe discuti-las agora. Basta lembrar que João Pessoa foi, em passado não muito distante, um celeiro de lideranças petistas — incluindo dois ex-prefeitos, Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo.
Portanto, recomenda-se mais atenção ao humor do eleitorado dos grandes centros. Que Lula tem ainda grande liderança no Nordeste, isso qualquer pesquisa mostra. No caso de João Pessoa e Campina Grande, o apoio de Lula é um combo que eu não preciso detalhar qual. O vice-governador Lucas Ribeiro e Cícero Lucena disputam o apoio do atual presidente. Um campinense e o outro pessoense. Concorrendo sentado na cadeira de governador, Lucas é favorito à vitória nas pequenas cidades. Cícero Lucena, pela oposição, depende de um desempenho tanto em Campina quanto em João Pessoa.