A incongruência no discurso dos nossos congressistas é algo difícil para o brasileiro engolir. Como a população pode compreender que, no momento em que Câmara dos Deputados se debruça sobre ampla discussão relativa à questão fiscal no Brasil, os deputados federais aprovam o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 471/22, da Mesa Diretora, que reajusta o subsídio deles próprios, dos senadores, do presidente e vice-presidente da República e dos ministros de Estado.
Pois é, no momento em que a Câmara Federal pega fogo com a discussão sobre suposto “estouro” com o teto de gastos, manutenção do equilíbrio entre despesas e receitas, e garantia da viabilidade econômica brasileira, diante da aprovação da PEC nº 32/22 (PEC da Transição), que viabilizará a manutenção do Auxílio de R$ 600 para a população, os deputados federais empurram, goela abaixo, um reajuste salarial do próprio salário para R$ 41,2 mil, com aumento gradual entre os anos de 2023 e 2026.
É um verdadeiro tapa na cara dos brasileiros!
O atual salário de um deputado federal é de R$ 33 mil. De acordo com o PDL aprovado, aumentará gradualmente ao longo dos próximos anos: em 2023, passará para R$ 39 mil até abril, quando subirá para R$ 41,2 mil. Em 2024, cada um dos 513 parlamentares passará a ganhar R$ 42 mil. O valor sobe novamente em 2025, para R$ 44 mil; e por fim R$ 46 mil em 2026.
IMPACTO FINANCEIRO
Só para a Câmara Federal, o impacto financeiro será de R$ 86 milhões no exercício orçamentário de 2023. Em 2024, outros R$ 18,8 milhões; R$ 19,1 milhões, em 2025; e R$ 20,2 milhões, em 2026. Um total de R$ 144,1 milhões em quatro anos.
Para o Senado Federal, os custos com o aumento salarial dos 81 senadores serão, respectivamente: R$ 14,3 milhões (2023); R$ 3 milhões (2024); R$ 2,5 milhões (2025); e R$ 3,5 milhões (2026).
Já os gastos com os reajustes salariais dos membros do Poder Executivo, ou seja, com os salários do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB) e dos ministros de estado, serão de R$ 7,1 milhões, em 2023; R$ 1,2 milhão, em 2024; R$ 1,2 milhão, em 2025; e R$ 1,3 milhão, em 2026.
Diante desses números, fica difícil para o brasileiro entender ou aceitar o argumento de alguns parlamentares que insistem em permanecerem contrários à manutenção do Auxílio Brasil (Bolsa Família), que vem para ajudar milhares de famílias em situação de vulnerabilidade social no país.
Como escreveu o Mestre Gilberto Gil, Caetano Veloso e Ivete Sangalo, na letra de “A Novidade”:
“Ah, mundo tão desigual
Tudo é tão desigual
Oh-oh-oh-oh-oh-oh
De um lado esse Carnaval,
De outro a fome total.
Oh-oh-oh-oh-oh-oh…”