Durante entrevista ao programa “Ô Paraíba Boa, da rádio 100.5 FM, nesta quarta-feira (8), a médica psiquiatra Dra. Camilla Franca, diretora do Complexo Hospitalar Juliano Moreira, fez um alerta importante: o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é real, mas não pode ser tratado como moda nem desculpa para outros quadros mentais não diagnosticados corretamente.
A entrevista fez parte da campanha do Outubro Laranja, mês de conscientização sobre o TDAH, transtorno que, segundo o Ministério da Saúde, atinge mais de 2 milhões de brasileiros e é caracterizado por sintomas como desatenção, hiperatividade e impulsividade, com impacto direto na vida social, escolar e profissional.
Segundo Camilla, o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que não pode ser diagnosticado antes dos seis anos, justamente porque a atenção ainda está em processo de consolidação. “Antes dessa idade, a criança ainda está em fase de desenvolvimento da atenção. Qualquer diagnóstico precoce demais pode ser precipitado ou equivocado”, explicou.
Ela também criticou o crescimento desordenado de diagnósticos em adultos, especialmente após a pandemia. “Muitos chegam ao consultório dizendo que não conseguem se concentrar. Mas isso começou quando? Durante ou depois da pandemia? Provavelmente não é TDAH. Pode ser depressão, ansiedade ou burnout. Todas essas condições também tiram a atenção e exigem diagnóstico diferencial.”
A médica reforçou que transtornos como depressão e ansiedade ainda sofrem muito preconceito, o que leva muitos pacientes a preferirem um “rótulo mais aceitável”. “Dizer que tem TDAH parece menos doloroso do que admitir um quadro depressivo. Só que isso dificulta o tratamento correto”, afirmou. “As pessoas dizem ‘sou depressivo’, e eu sempre corrijo: você está em um episódio depressivo, e é possível sair dele.”
Além disso, Camilla destacou que o TDAH não se manifesta apenas em um ambiente, como trabalho ou estudo. “Se é TDAH, ele vai impactar todas as áreas da sua vida. Não existe ser desatento no escritório e centrado em casa. O transtorno acompanha o indivíduo em todos os contextos.”
A campanha Outubro Laranja busca justamente desmistificar o TDAH e combater o estigma que envolve os transtornos mentais, especialmente aqueles que não têm sinais físicos visíveis. Muitos ainda confundem TDAH com preguiça, desorganização ou falta de força de vontade.
Segundo especialistas, o tratamento adequado pode incluir medicamentos, psicoterapia e apoio educacional, e faz toda a diferença na qualidade de vida. Mas para isso, o diagnóstico deve ser feito por profissionais qualificados, como psiquiatras ou neurologistas, após avaliação clínica detalhada.
Dra. Camilla encerrou com uma reflexão: “A gente precisa parar de buscar atalhos para o sofrimento psíquico. TDAH é real, mas não é desculpa para tudo. Precisamos tratar com responsabilidade, empatia e informação correta”,concluiu.
Assista a entrevista de Camilla Franca ao Programa Ô Paraíba Boa:
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