Talvez nenhum partido no Brasil tenha sido submetido a tantas humilhações públicas como o PT da Paraíba. E, o mais paradoxal, humilhado por sua própria direção nacional.
Quem não se lembra de uma tarde de sexta-feira, 16 de setembro de 2020, último dia para a realização das convenções partidárias? O ginásio do Sindicato dos Bancários estava todo decorado para a ocasião, com a militância do PT reunida com a intenção de homologar a chapa que teria como candidato a prefeito o então deputado estadual petista, Anísio Maia.
O evento foi interrompido com um comunicado inacreditável: a Direção Nacional do PT tinha acabado de decidir, à revelia da Direção Municipal, pela retirada da candidatura de Anísio Maia e pelo apoio a Ricardo Coutinho, à época filiado ao PSB, que tinha tomado a decisão de se candidatar a prefeito de João Pessoa naquela mesmíssima tarde. A inevitável confusão acabou na justiça e todo mundo sabe o resultado eleitoral desastroso. Para os dois lados.
Em 2022, depois de participar por quatro anos do governo João Azevedo, e ter uma ampla maioria no Diretório Regional em apoio à reeleição do governador, a Direção Nacional do PT decide apoiar a candidatura do senador Veneziano Vital do Rego (MDB). Pelo menos, a decisão foi antecipada dessa vez. As velhas feridas, porém, continuaram abertas. Mesmo com um candidato a Senador, Ricardo Coutinho, que se filiara ao PT meses antes, o partido foi mais uma vez dividido à eleição. O resultado foi mais uma derrota.
Estamos em 2024. Em junho de 2024, a quatro meses de mais uma eleição para prefeitura de João Pessoa. Depois de estimular a realização de prévias e obrigar Cida Ramos e Luciano Cartaxo a meses de desgastante campanha e embates públicos, eis que mais uma manobra, outra vez vinda de cima, da Direção Nacional do PT, suspende a prévia. O motivo: Luciano Cartaxo seria derrotado e Cida Ramos seria, por ampla maioria, escolhida a candidata do partido à prefeitura de João Pessoa.
Nem o esdrúxulo critério de escolher o candidato através de pesquisa eleitoral, decidido há semanas, foi até agora encaminhado. Ao que parece, não há confiança de que a pesquisa asseguraria de maneira inquestionável o favoritismo de Luciano Cartaxo sobre Cida Ramos.
Resultado: o PT de João Pessoa está há semanas em um impasse que o imobiliza por completo, já que a ampla maioria dos petistas pessoenses resistem em engolir, mais uma vez goela abaixo, o vexame de ter de pedir votos para Luciano Cartaxo depois do que o ex-prefeito fez à própria Direção Nacional do PT e ao próprio Lula, em 2015.
A situação foi tão constrangedora que o próprio Lula teve de responder às acusações feitas por Cartaxo em uma de suas raras visitas à Paraíba. E agosto de 2017, durante entrevista concedida ao jornalista Fernando Caldeira, Lula foi questionado sobre a rumorosa saída de Cartaxo do PT. Lula aproveitou para ir à forra.
“O Cartaxo ficou no PT enquanto ele quis, disse Lula. A mesma porta que estava aberta para ele entrar, estava aberta para ele sair. Agora veja, ele começa a dar sinais de que ‘quem ferro fere, com ferro será ’. Ele disse que saiu do PT por causa da corrupção e eu estava vendo que há duas denúncias envolvendo ele aqui na cidade de João Pessoa”.
Na ocasião, Lula deixou claro que o tratamento dado por Luciano Cartaxo ao PT foi o mesmo dado por seus adversários, na política e na mídia:
“O Cartaxo eu acho que foi precipitado, fez um julgamento que a Justiça ainda não tinha. Eu acho que ele não foi correto, não foi correto com o PT. E é lamentável que saia do PT para entrar no partido de Kassab. Não houve nenhum avanço, na verdade houve um retrocesso ideológico, um retrocesso político do comportamento dele. Mas se ele tomou a decisão eu respeito; ele que siga a vida dele, que Deus o acompanhe”.
Cartaxo seguiu a vida na companhia conservadora até ser derrotado na eleição de João Pessoa. Sem a prefeitura na mão, pediu arrego ao PT para tentar se eleger deputado estadual, o mesmo cargo que tinha antes de se eleger deputado estadual.
Não sei se Lula concordou com a volta de Luciano Cartaxo ao PT. Muito menos, o que o atual presidente, que ficou na cadeia por mais de 500 dias por conta de julgamentos antecipados e condenações sem prova, acha da candidatura de Cartaxo a prefeito da maior cidade da Paraíba, pelo mesmo partido que abandonou “por causa da corrupção”, segundo as palavras do próprio Lula.
Não sei mesmo. Porém, seria decepcionante demais saber que Luciano Cartaxo tem o apoio de Lula. Pelo que o ex-prefeito disse e, sobretudo, pelo que fez.
