O ex-governador Cássio Cunha Lima voltou a Campina Grande e, como era inevitável, em sua primeira aparição pública, tratou do iminente racha entre Bruno Cunha Lima, atual prefeito, e Romero Rodrigues, deputado federal e antecessor imediato de Bruno na prefeitura. E o fez deixando claro que o incômodo com o tratamento dado pelo prefeito aos aliados não se restringe a Romero Rodrigues.
Em entrevista concedida hoje à imprensa de Campina Grande, Cássio foi questionado a respeito da situação, porém, disse apenas que “torcia” para que houvesse unidade entre os dois. Um dos repórteres notou imediatamente o uso do verbo “torcer” que, em política, combina mais com a atitude do eleitor do que com a de um ator político da grandeza de Cassio, sobretudo em Campina Grande: “O senhor vem trabalhando nisso?”, perguntou, interrompendo o entrevistado.
Cássio respondeu que “procura trabalhar” para atingir esse objetivo, porém, citou dificuldades que parecem ter se tornado o principal entrave para manter a unidade do grupo que hegemoniza a política de Campina Grande há quatro décadas. O ex-governador descreveu como um “grande desafio” para Bruno Cunha Lima o reconhecimento da importância do trabalho que todos os prefeitos que o antecederam “nos últimos 40 anos” na Prefeitura de Campina Grande, ou seja, desde Ronaldo Cunha Lima, que assumiu a administração do município, em 1983, passando pelo próprio Cássio, Veneziano Vital do Rego e o próprio Romero Rodrigues, todos aliados do atual prefeito campinense.
Segundo Cássio, todos – e fez questão de repetir, “todos” – os antecessores de Bruno Cunha Lima nas últimas quatro décadas, incluindo a si próprio, ajudaram a construir com o trabalho de suas administrações, o que Campina se tornou, emendando, usando um leve tom de ironia, que o atual prefeito não deve imaginar que “Campina foi criada hoje, inventada hoje”, e, principalmente, evitar a vaidade de se achar “o maior prefeito do mundo”.
– Nada! Isso é um trabalho de 50 anos, completou.
Se alguém achou que a aparição pública de Cássio serviria para apaziguar os ânimos no seu grupo político em Campina Grande, pode ter se enganado. Mais que um puxão de orelha público no prefeito, Cassio revelou, também ele, irritação com as atitudes de desprezo de Bruno Cunha Lima mostra permanentemente pelo trabalho dos antecessores, principalmente pelo de Romero Rodrigues, que o apoiou, elegendo-o no primeiro turno, em 2020.
Pode ser que Cassio continue apoiando a reeleição de Bruno Cunha Lima e “torcendo” pela unidade com Romero Rodrigues. Porém, está cada vez mais claro que, se o fizer, será única e exclusivamente para preservar a unidade do bloco de forças que apoiou Pedro Cunha Lima no segundo turno de 2022.
Com o rearranjo político em curso na Paraíba desde a reeleição de João Azevedo para o governo, entretanto, não me surpreenderia se Romero Rodrigues, no caso deste resolver lançar sua candidatura a prefeito de Campina Grande, passasse a ter o apoio de Cássio e do grupo Cunha Lima.
Abaixo, os principais trechos da entrevista de Cássio Cunha Lima.
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